“Quando chegou o momento do parto eu gritava
‘me ajuda! ’. Uma enfermeira debochava de mim e caçoava: ‘Vai lá, ajuda ela’. E
todos riam”.
- Silvia Moreira Gouvea, dona
de casa e mãe de Davi e Daniel.
“A
médica fez uma episiotomia sem que eu soubesse e, enquanto dava os pontos, ela
ia explicando para cinco alunos presentes como era o tecido do meu períneo. Me
senti uma cobaia humana”.
- Elisângela Alberta de Souza,
esteticista e mãe de Cecilia, Pedro e Ester.
“Durante
uma contração, eu baixei a perna e, sem querer, sujei o chão que o obstetra
estava limpando. Em resposta, ele bateu no meu joelho”.
- Cristiane Fritsch, psicóloga e
mãe de Iago.
Esses
relatos que você acaba de ler são de mulheres que foram vítimas de violência no
parto. Infelizmente, 25% das mulheres que tiveram filhos pelas vias naturais na
rede pública e privada sofreram violência obstétrica no Brasil, de acordo com
uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo. Apesar de a pesquisa se
restringir ao parto normal, a violência também pode acontecer em uma cesárea.
Os abusos mais citados pelas mulheres no levantamento foram:
·
Se negar ou deixar de
oferecer algum alívio para a dor;
·
Não informar a mulher
sobre algum procedimento médico que será realizado;
·
Negar o atendimento à paciente;
·
Agressão verbal ou
física por parte do profissional da saúde.
Comentário:
A
violência obstétrica é mais uma evidência de como as mulheres sofrem
cotidianamente com os conceitos que a sociedade insiste em manter, ver a mulher
como um objeto de reprodução que simplesmente tem que suportar dores horríveis
e se manter calada, ter seu corpo dilacerado, o que deixará marcas
irreversíveis, pois “na hora de fazer ela não achou ruim”. A parte mais triste
disso é o fato de profissionais diplomados, e que deveriam ter total respeito
para com seus pacientes, cometerem atos tão desumanos, atos que até o mais
leigo de todos pode ver e entender o quão absurdo são.
O
parto violento deixa marcas físicas e psicológicas que perduram por toda a
vida, um momento que para muitas mulheres é de felicidade e pleno amor se
transforma em um pesadelo onde tanto elas quanto seus bebês estão a mercê de
profissionais negligentes e tem seus corpos tomados como objetos nas mãos
dessas pessoas. Esses casos nos levam a refletir sobre os índices de violência
contra a mulher, não é sempre que vemos notícias informando casos de homens
sofrendo alguma violência durante quaisquer procedimentos médicos, seriam as
mulheres vistas como insignificantes e propriedade da sociedade? O que se passa
na cabeça dessas pessoas, que em sua maioria, como no caso da enfermagem
(enfermeiras/os, técnicos/as de enfermagem e auxiliares de enfermagem), são
mulheres e que possivelmente também são ou serão mães?
É
vergonhosa essa conduta abusiva para com as mulheres, precisamos ter uma
construção profissional humanizada para que os profissionais compreendam de uma
vez por todas que, independente de qualquer, coisa ali na mesa de parto são
seres humanos e merecem todo o respeito e compreensão.
Fonte: http://bebe.abril.com.br/parto-e-pos-parto/hora-do-parto-o-que-e-considerado-violencia-obstetrica/
Responsável pela publicação: Grupo 05 (Monalisa Oliveira, Ruth Francielle, Samantha Rocha)
É revoltante perceber a frequência com que a violência obstétrica ocorre nos hospitais brasileiros. Mulheres em situação de vulnerabilidade passam por constrangimentos que ficam marcados para o resto de suas vidas. Os momentos do trabalho de parto até a parturição, deveriam ser de maravilhosas lembranças, quando na verdade, a mulher tem sofrido terríveis violências. A humanização do parto é um conjunto de ações que visa a máxima redução da violência obstétrica e a medicalização do parto, ela está focada no respeito às escolhas da mulher, no direito a um atendimento digno, respeitoso e sem qualquer tipo de violência. Os conceitos da humanização do parto devem estar presentes em todos os locais de assistência à gestante: em um hospital público, privado, em uma casa de parto e até numa residência. O que importa é que sejam adotadas práticas que garantam o direito à informação e às escolhas da mulher. (Brasil, 2015) Significa entender que o parto é um momento subjetivo, particular e que a autoria dele recebe a assinatura da parturiente e a equipe médica deve conduzir procedimentos e manobras não intervencionistas, que visem respeitar a integridade física e psicológica da mãe e da criança. Cada parto é único, e não pode ser entendido como uma simples "linha de montagem" como tem sido feito. Comentários comuns como "aguenta aí que quando estava fazendo você não reclamou" ou "ano que vem vocês estão todas aqui de novo" demonstram extrema indiferença quanto ao cuidado com o sofrimento do outro e uma violência gratuita por profissionais de saúde a mulheres que precisam de cuidados especiais. É preciso um maior preparo desses profissionais para a adoção das práticas do parto humanizado e o respeito ao sofrimento do outro, erradicando as atitudes violentas dos ambientes hospitalares.
ResponderExcluirPessoal, encontrei um ensaio fotográfico de mulheres que relatam na pele a violência obstétrica. As fotos estão disponíveis nesse link: http://www.hypeness.com.br/2014/07/serie-de-fotos-mostra-relatos-de-violencia-na-hora-do-parto-que-passariam-batidos/
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQuando li, lembrei que na sala de aula eu e alguns colegas discutimos sobre a violência no parto e percebemos que de quase todas nós havia um caso na família que sofreu um parto violento. Muito triste, acredito que ao escolher uma profissão principalmente aquela que tem sempre contato com pessoas, que precisam de algum tipo de ajuda os profissionais devem tratar seu paciente com empatia e respeito, mas parece que muitos destes se esquecem de como devem trata-los.
ResponderExcluirA partir do momento histórico em que o parto foi roubado da mulher para se tornar propriedade médica, a mulher deixa de ser vista como a protagonista para se tornar paciente. Coloca-se nas mãos de outro o ato de "fazer" o parto, enquanto todos os mamíferos não precisam de ninguém para parir, somente o ser humano. E as próprias índias, que sabem parir sozinhas, como sabem que menstruam e que isso faz parte de um ciclo natural feminino, no qual o mesmo corpo que gera, tem a plena capacidade de expulsar esse bebê de maneira fisiológica. As patologias e o medo do parto faz com que as mulheres se distanciem cada vez mais de sua essência de mamífera.
ResponderExcluirAntigamente o parto era visto como um momento de prazer e poder e os registros eram de partos mais rápidos e fáceis. Hoje em dia, temos uma construção social de que o parto é a pior dor que existe e por isso precisa-se de anestesia ou qualquer outro procedimento médico para lidar com essa dor. O empoderamento feminino se perde durante esse processo e as mulheres realmente começaram a acreditar que não são capazes de parir seus filhos. Por isso, elas entregam seu parto para os profissionais de saúde e nesse momento, as mulheres perdem o domínio de seu corpo e de suas escolhas. Por tanto, essa triste realidade de más práticas obstétricas, que não mudará enquanto não houver a convicção de que ninguém sabe mais do que a própria mulher das suas necessidas durante o processo do parto.
Estava ansiosa pelo seu comentário nessa postagem, e valeu a espera!
ExcluirÉ entristecedor ter conhecimento de tamanha violência. A questão da violência obstetrícia deve ser discutida e enfatizada, para que as pessoas denunciem e que os gestores tomem atitudes para extinguir tal situação. Acredito que devemos destacar como existe grande diferença em relação à mulher parturiente negra, que comprovadamente, sofre mais violência obstetrícia - dados que envergonham, considerando que além do ato da violência para com o gênero, há um fator de exposição maior relacionado ao racismo, que reflete como o nosso país ainda é extremamente preconceituoso e segregacionista!!!
ResponderExcluirDesde antes da Idade Média em que o casamento era tido como um pacto entre duas famílias, tendo como único objetivo a procriação que a mulher vem sendo negligenciada de forma absurda. Porém, ao passar dos anos tal realidade vem sofrendo grandes mudanças, mudanças positivas. Não é difícil encontrar relatos de familiares próximas que sofreram durante o parto, fato que causa estranhamento e indignação, afinal médicos, enfermeirxs, técnicos... são seres "esclarecidos" que estão ali para salvar vidas, atender o próximo e tratar todo e qualquer cidadão de forma humanizada.
ResponderExcluirÉ difícil de digerir o fato de que muitas mulheres classificam a hora do parto como um dos piores momentos de suas vidas, momento este que deveria ser sempre lembrado de forma positiva.
É triste o fato que de muitos profissionais de saúde não tenham e não entendam a importância da sensibilidade existente no momento do parto, a relação entre mãe- filho- equipe que deveria ser harmoniosa acaba sendo desastrosa.
A realidade muda cada vez mais, e as mulheres lutam e expõem os acontecimentos em busca de um maior cuidado e afetividade no parto. É dever de todo profissional de saúde a humanização e o cuidado.
É inegável a diminuição da taxa de mortalidade infantil no Brasil com os avanços da medicina mas quando analisamos a mulher nesse cenário de violência obstétrica identificamos uma quebra de cultura. A mulher como já foi pontuado perdeu o seu lugar principal, direito de escolha e sonho com o melhor momento de sua vida- dar a luz- transformando-se como já ouvi várias vezes em relatos o pior momento da sua vida, uma prática que antes humanizada hoje se constitui em um método mecânico. O Brasil, segundo artigo da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, é campeão em operações cesarianas, resultado de uma prática indiscriminada da cirurgia e contra as recomendações da OMS. Mas em quanto ao profissionais de saúde como fazer com que com reconheçam o significado da humanização? Será que as mulheres reconhecem os abusos sofridos durante o parto?
ResponderExcluir(180) Violência contra Mulher
(136) Disque Saúde
É muito triste saber que pessoas que deveriam estar nos ajudando a passar por um momento difícil que é ao mesmo tempo o mais feliz da vida de uma mulher, conseguem transformar-lo em algo traumático, revoltante e violento. Esses abusos deveriam ser denunciados pelas vitimas ou por seus familiares, deveria ser discutido nas mídias e nas salas de aula, para que os futuros profissionais sejam mais humanos, e para que casos assim sejam menos frequentes.
ResponderExcluirA violência obstétrica é uma realidade pertinente dentro dos hospitais e se trata sim de uma violência de gênero, visto que dentro das instituições a mulher perde sua autonomia e torna-se submissa às ordens dos profissionais. E utilizo desse espaço para realçar outro aspecto dessa violência: o racismo é uma das causas da maior mortalidade materna negra quando comparada à das mulheres brancas. Além disso, dentro dos hospitais as mulheres negras ainda tem que lidar com associações entre a "força" que os escravos tiveram durante a escravidão para, por exemplo, resistir às chicotadas com a força que elas têm que ter na hora do parto e muitos profissionais às deixam esperando mais tempo porque "elas são mais resistente à dor". E trago ainda mais uma vertente para análise: o capitalismo é causador dessa violência também. Pude assistir de perto a violência sofrida por uma pessoa próxima dentro de um hospital privado, em que ela queria um parto natural, porém o médico pautou mil e uma patologias para que fosse realizado o parto cesário, e esse é sim priorizado durante todo o pré-natal, ambicionando os lucros que esses trazem e manipulando as grávidas à afastarem-se da sua "essência mamífera" como foi dita por Juliana no comentário acima. E, por fim, parem para pensar: se as mulheres que estão nos hospitais para realizar o parto sofrem toda essa violência, imaginem as que vão para realizar um aborto?
ResponderExcluirMinha mãe sofreu violência obstétrica durante o meu parto e, felizmente, sobreviveu, mas muitas mulheres morrem no Brasil por conta desse problema. É necessário que muito seja investido em ações de saúde para que o atendimento às mulheres grávidas seja integral dentro dos hospitais, tanto os públicos quanto os privados. Não devem haver mutilações, não deve haver espera, não deve haver submissão. O parto é uma forma de conexão da mulher com seu próprio corpo e com o ser que está por vir, e esse momento deve ser respeitado de forma plena.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei muito dessa abordagem! Super necessária. A um tempo li um artigo que falava justamente sobre isso, e li também esses mesmos relatos. Fiquei chocada. É triste saber que é uma realidade, e mais triste ainda é saber que a violência no parto é cometida por profissionais que deveriam zelar pelo outro, pela mulher que está alí. A ética, o bom senso, as explicações referentes aos procedimentos que serão feitos e o porquê da necessidade de se fazer, devem sempre estar ao lado dos profissionais de saúde, e é isso que deve ser transmitido ao paciente. Durante a formação desses profissionais isso deve ser discutido, componentes curriculares que abrangem a ética são os que mais possuem faltas dos estudantes. Penso que para mudar a realidade da violência ao paciente, tanto verbal, como física, as mudanças precisam ser desde a formação dos futuros profissionais. A ética deve ser discutida sempre, não só por meio da fala dos professores, mas também, e principalmente, pelos próprios estudantes, para que seja avaliado a forma que cada um enxerga o outro, e a partir daí se formem profissionais melhores.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA violência obstétrica é um problema real e recorrente no Brasil. Mas este é um problema que apesar da grande recorrência pode ser evitado. Sim, é possível evitar este tipo de violência. A realidade dos hospitais e maternidades públicas e privadas não nos faz acreditar nisso, porém se as gestantes, mães e principalmente seus ou suas acompanhantes souberem fazer garantir o seus direitos previstos por lei, esta realidade pode mudar.
ResponderExcluirÉ bem verdade que os profissionais de saúde são os principais promotores deste tipo de violência, estes maus profissionais se aproveitam do momento de fragilidade em que esta nova família está passando e se impõe, por vezes, de maneira arrogante e violenta. Isso é um crime contra a vida. Por isso um plano de parto deve ser feito antes do parto e um acompanhante deve estar em todos os momentos ao lado da mulher gestante e mãe. Assim os riscos de violência obstétricas podem ser diminuídos. Se esse direito de acompanhamento durante e pós-parto não for garantido e mesmo assim ocorrer a violência obstétrica, medidas judiciais devem ser tomadas para que estes maus profissionais e aproveitadores conheçam a força de cada família. A mulher que sente a violência obstétrica não só se torna mais frágil, mas pode sofrer com isso por um bom período de sua vida. Por isso a violência obstétrica deve ser fortemente combatida.
Vergonhoso e frequente. As violências obstétricas são abomináveis. Conheço algumas mulheres que passaram por essa situação. Tão ruim quanto ouvir os relatos foi constatar que elas não exigiram seus direitos. O que é bastante preocupante, visto que, a ocultação dos casos colabora para que a realidade permaneça a mesma. Ademais, esse contexto reflete a situação educacional do país cujo erro é o não cumprimento do papel de informar as cidadãs como medida preventiva contra a violência, a sensação de impunidade também é angustiante.
ResponderExcluirVergonhoso e frequente. As violências obstétricas são abomináveis. Conheço algumas mulheres que passaram por essa situação. Tão ruim quanto ouvir os relatos foi constatar que elas não exigiram seus direitos. O que é bastante preocupante, visto que, a ocultação dos casos colabora para que a realidade permaneça a mesma. Ademais, esse contexto reflete a situação educacional do país cujo erro é o não cumprimento do papel de informar as cidadãs como medida preventiva contra a violência, a sensação de impunidade também é angustiante.
ResponderExcluirÉ um assunto pouco discutido, mas muito importante pois essa violência é muito recorrente e afeta a vida sexual das mulheres. Eu acho que uma forma de combate-la seria fazer palestras com a equipe de saúde sobre respeito ao corpo feminino e conscientizar a população através da publicidade sobre o direito da mulher e para que ocorra as devidas denúncias.
ResponderExcluirExiste também a violência obstétrica em relação às mulheres negras, já que muitos médicos não dão anestesias e nem analgesias corretamente quando percebem que a paciente é negra já que existe a ideia de que negras suportam mais as dores no parto. Vale ressaltar que quando as mulheres são negras e candomblecistas isso ainda é pior, já que em maternidades públicas em parto normal, muitas mães de santo ou até quando o acompanhante da gestante está com guias ou com apetrechos da religião, de diversas formas são barrados ou destratados nas maternidades.
ResponderExcluirA gravidez é um período na vida da mulher que muda completamente seu organismo, as alterações hormonais são responsáveis por mudanças de comportamento e personalidade. O momento do parto é o como se fosse o cume mais alto dessa montanha, ou seja, esse momento por si só é extremamente sensível e delicado, podendo ser assustador.
ResponderExcluirTer uma média de 25% dos partos naturais nas redes públicas ou privadas com ocorrência de violência obstétrica é desesperador, esse índice é muito elevado. O mais assustador nesse caso é que muitas vezes são mulheres agredindo mulheres. Somos uma camada da sociedade que já é discriminada há séculos, nas últimas décadas conquistamos alguns direito, pois nos unimos e lutamos por eles. Mas, ainda existem muitas batalhas que não foram vencidas, a nossa união precisa ser a arma principal contra essa discriminação arcaica. Não podemos reproduzir o que a sociedade propaga. Não somos meros objetos de reprodução. Sonhamos, trabalhamos, dedicamo-nos aos nossos objetivos como qualquer outra pessoa e merecemos todo o respeito.
A saúde tem vivido uma crise na relação profissional de saúde e paciente. Muitas vezes achamos que somos os detentores de todo o saber e que somos superiores a qualquer um que apareça precisando do nosso atendimento. Precisamos enxergar o outro como igual e essas relações precisam ocorrer através de trocas. Sempre que entramos em contato com o outro transformamos e somos transformados por convicções existentes na vida de cada um.
A visão humanizada deve ser a nova busca do campo da saúde. Dessa forma, muitos dos problemas nesse setor serão reduzidos, inclusive a violência doméstica.