COMENTÁRIO:
As relações do indivíduo
com o trabalho influenciam sua saúde e, dependendo de seu nível de envolvimento
com o trabalho, impõem adaptações ao estilo de vida e mecanismos de
enfrentamento que podem interferir em sua saúde mental. Os enfermeiros, médicos
e outras profissões de saúde estão entre as mais estressantes do mundo. Lidando
diariamente com as vidas a serem salvas, com cargas horárias elevadas e
pouquíssimo tempo de descanso e lazer, esses profissionais vivem uma rotina
dificilmente saudável. Por isso, é necessário atenção e promoção da saúde
mental desses profissionais.
ESTRESSE E IMPLICAÇÕES PARA O TRABALHADOR DE ENFERMAGEM
As
relações do indivíduo com seu trabalho acabam por influenciar no estilo de vida
dos profissionais que cuidam. Deve-se lembrar de que para que o cuidado prestado
aos pacientes seja adequado são necessários ambiente, recursos e condições dignas
de trabalho para os profissionais de enfermagem desenvolvam suas atividades laborais.
O
estilo de vida frenético decorre; muitas vezes, de necessidades financeiras e
manutenção de um padrão social, fazendo com que o (a) trabalhador (a)
estabeleça para si um ritmo rigoroso de atividades envolvendo os vínculos
empregatícios e a vida doméstica, desta forma, propiciando o estresse. Soma-se
a isso, o fato de trabalhar em situações adversas impostas pela profissão que
impõe grande demanda de atividades variadas - em turnos diferentes - pode afetar
o desempenho físico, gerar distúrbios mentais, neurológicos, psiquiátricos e
gastrintestinais como comentam Costa, Morita e Martinez (2000, p.554).
Atualmente,
há uma preocupação com a saúde mental e bem-estar dos trabalhadores da área da
saúde. É crescente o afastamento permanente do trabalho por doenças mentais
tende, em um futuro próximo, a superar os afastamentos por doenças
cardiovasculares e osteomusculares (CORGONZINHO, 2002).
A
literatura descreve ocorrência de transtornos mentais comuns (TMC) em profissionais
de enfermagem. Estudos epidemiológicos realizados na área da saúde do
trabalhador evidenciaram associação entre a ocorrência de TMC e trabalho exercido
por esses profissionais, também com estudantes do curso de graduação em enfermagem
e com aspectos relacionados ao gênero feminino. Tais estudos evidenciam a vulnerabilidade
peculiar da classe.
No
Brasil, a maior representação de profissionais de enfermagem encontra-se nos hospitais,
seguindo o modelo assistencialista do setor saúde, atendendo ao modelo biológico
curativista. Os fatores ligados ao ambiente, ergonomia e o perigo constante o risco
biológico justificam a tensão e ansiedade os quais se tornam mais evidentes, na
medida em que encontra-se o “cuidar” da equipe de enfermagem voltado para pacientes
com doenças crônicas, traumas agudos e enfermidades terminais, ou com grave
risco de morte.
Esse contato constante com pessoas fisicamente doentes ou
lesadas, adoecidas gravemente, com frequência, impõe um fluxo contínuo de
atividades que envolvem a execução de tarefas agradáveis ou não, repulsivas ou
aterrorizadoras, muitas vezes que requerem para seu exercício, ou adequação
prévia à escolha de ocupação, ou um exercício cotidiano de ajustes e adequações
de estratégias defensivas para o desempenho das tarefas (PITTA, 1994, p.62).
Tais
fatores, mencionados por Ana Pitta, além de gerar as defesas psicológicas,
impõem demandas da mesma natureza e acarretam o estresse crônico, o qual pode agir
como potencial contribuinte para agravos e danos à saúde do trabalhador.
A
legislação previdenciária brasileira (lei n. 3048 de 06/05/1999) reconhece
estresse e a depressão como doenças do trabalho o que podem vir a se tornar um
grave problema de saúde pública. Fato relevante, na medida em que o trabalho dos
profissionais de enfermagem é referido; por diversos autores, como estressante,
destacada como uma das profissões passíveis de desenvolvimento da síndrome de
Burnout ―fase mais avançada do estresse que leva ao esgotamento― a qual se
refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para profissionais
que mantêm relação constante e direta com outras pessoas, principalmente, quando
esta atividade é considerada de ajuda como afirma Ballone (2004).
De
acordo com Murofuse, Abranches e Napoleão (2005, p. 259) a enfermagem foi
classificada pela Health Education Authority como a quarta profissão mais
estressante, no setor público, que vem tentando
profissionalmente afirmar-se para obter maior reconhecimento social.
Percebe-se
que inserido nesse ambiente estão as relações interpessoais e de trabalho que
impõe as demandas psicológicas na execução de tarefas e do controle sobre seu
trabalho, bem como o desgaste psicológico podendo levar a distúrbios de ordem
psíquica. Lautert, Chaves e Moura (1999) ressaltam que a falta de controle
sobre o trabalho e responsabilidade excessiva produzem conseqüências
psicológicas e somáticas negativas para o profissional de enfermagem. As
autoras apontam que, no campo hospitalar, o enfermeiro pode desenvolver
alterações de saúde de ordem imunológica, músculo-articulares, cardiovasculares
e gastrintestinais.
As
demandas de ordem psicológica, assim como o grau de controle que o trabalhador
aplica no desenvolvimento de suas atividades laborais são atualmente exploradas
no Brasil. Durante vários anos, sob de diversas perspectivas, foram
identificadas as conseqüências da organização do trabalho e sua relação com
estresse saúde e bem-estar do trabalhador. A magnitude desse fenômeno e impacto
sobre a economia também podem ser evidenciados (KARASEK; THEORELL, 1990, CREED,
1993, NORIEGA et al, 2000). Araújo e cols. (2003) em estudo com profissionais
de enfermagem na Bahia, encontrou associação entre níveis altos de demanda
psicológica no trabalho e prevalências de TMC, assim como também esteve
associado o nível baixo de controle sobre as tarefas desenvolvidas na
instituição hospitalar com as desordens psíquicas.
Outro
fator importante que se encontra no ambiente hospitalar de trabalho é a falta
de aparato técnico e a própria organização do espaço físico como refere Silvino
(2002) relatando os problemas de uma unidade pública universitária no estado do
Rio de Janeiro. No setor privado, pode ser citado o completo aparato técnico
que, muitas vezes, afasta o profissional do cuidado direto ao cliente e o
aproxima da máquina. O excesso de equipamentos para monitoramento impõe mais
atenção e obrigação do domínio das funções eletrônicas e o esquecimento de que
a tecnologia deveria propiciar melhor qualidade da atenção ao cliente e
contribuir para que o profissional torne-se mais presente e prestativo à sua
clientela, já que a tecnologia muitas vezes poupa tempo. Em suma, o trabalho
pode ser percebido como fonte de satisfação; entretanto, quando rompe os
limites da resistência física e psicológica, pode contribuir para agravos à
saúde do trabalhador de enfermagem. A classe descrita aqui acaba sendo vítima
da estrutura organizacional do trabalho, das demandas psicológicas necessárias
para o desenvolvimento de suas tarefas, e os riscos químicos, físicos e
biológicos há muito tempo descritos e conhecidos pelos estudiosos da área. Além
de se levantar a discussão sobre as medidas para promoção da saúde do
trabalhador das grandes instituições hospitalares, ressalta-se também o foco de
atenção dos estudos científicos da área que alertam para a relevância da saúde
mental do trabalhador. Esta é a primeira a ser afetada, por sua vez, mais tarde
o corpo apenas sinaliza as consequências.
REFERÊNCIA:
SILVA,
Jorge Luiz Lima; MELO, Enirtes Caetano Prates. Estresse e Implicações Para O Trabalhador De Enfermagem. Promoção
da Saúde, v.2, n.2.p.16-18. 2006. Disponível em <http://www.uff.br/promocaodasaude/estr.trab.pdf>.
Acesso em 22 de Janeiro de 2017.
Responsável pela publicação: Grupo 04 (Cassiane
Viana, Elis Neiva, Priscilla Teixeira).