quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

COMO LIDAR COM A MORTE?

A literatura tem os profissionais de saúde como pessoas despreparadas para lidar com as questões relacionadas à morte e ao processo de morrer. Tais assuntos tendem a ser menos importantes em instituições de saúde, tal fato acontece porque a imagem do hospital é vinculada a um local de cura, local este em que todos que o procuram têm em si a esperança de sair curado.

  • A morte na literatura:

- Período Clássico: A religião era politeísta, fato que ajudou para que as pessoas enxergassem a morte como algo desvinculado da espiritualidade. Neste período a morte representava o fim, o deixar de existir não era encarado como preocupação, mas sim como conseqüência.

- Período Medieval: Com a queda do Império Romano, e tendo como religião o Cristianismo, a mentalidade das pessoas sofreu mudanças extremas. O fato de morrer agora tinha um viés espiritualizado, pois a alma passou a fazer parte do imaginário da população e a morte passou a ser vista como julgamento.

- Renascimento: A sociedade ainda sofria influência do Cristianismo, mas já possuía ideias sobre liberdade. Luis Vaz de Camões enxergava a morte como uma ameaça que deveria ser temida e vencida.

- Barroco: Surgiu no meio da revolta entre a cisão da Igreja e o surgimento do Calvinismo e Protestantismo. Junto com o nascimento do Barroco começou a enraizar no imaginário das pessoas o desejo de morrer. A morte se contrapunha a vida, nos poemas a morte era vista com medo, mas que deveria estar ali.  As alusões eram nítidas, regada a melancolia e pessimismo.

- Arcadismo: Morte sutil, a qual quase nunca figurava. Isto se deve ao avanço das ciências e filosofia, a burguesia começa a acreditar no aproveitamento da vida.

- Romantismo/ Romance Gótico: A morte possuía traços da Idade Média, Barroco e Arcadismo. O fato de morrer passou a ser visto como forma de fuga, libertação do mundo imperfeito para um mundo idealizado.

Ordena Amor que Morra, e Pene Juntamente

Como fizeste, ó Porcia, tal ferida?
Foi voluntária, ou foi por inocência?
É que Amor fazer só quis experiência
Se podia eu sofrer, tirar-me a vida?

E com teu próprio sangue te convida
A que faças à morte resistência?
É que costume faço da paciência,
Porque o temor morrer me não impida.

Pois porque estás comendo com fogo ardente,
Se a ferro te costumas? É que ordena
Amor que morra, e pene juntamente.

E tens a dor do ferro por pequena?
Si, que a dor costumada não se sente,
E não quero eu a morte sem a pena.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" 
Responsável pela publicação: Grupo 04 (Cassiane Viana, Elis Neiva, Priscilla Teixeira).

10 comentários:

  1. A morte na literatura me remete ao livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e, portanto, deixo aqui um trecho dele: "Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar".

    ResponderExcluir
  2. A questão seria o fato dos profissionais serem despreparados para lidar com a morte? Acredito que não. Ao meu ver o profissional de saúde, em geral, é muito responsivo no cuidado profissional com o paciente, com o intuito de melhorar seu estado e quando possível evitar a morte. Entretanto, mesmo assim milhares de pessoas morrem diariamente.
    Acho que não é o profissional que é despreparado, mas sim a nossa sociedade que não está preparada para lidar com a morte, mesmo sabendo que em algum momento ela será inevitável. O texto de Colliére aponta que face a questão vida e morte o ato de cuidar passou a ser relacionado com a doença para garantir a continuidade da vida. Desde sempre o homem se trata a fim de evitar a morte, mas ainda hoje a morte desperta muito medo e é um "tabu", haja vista que as pessoas raramente conversam sobre e se 'preparam' para essa situação. Portanto, acredito que a questão é muito maior do que a preparação do profissional, já que engloba uma questão cultural - de como nossa sociedade lida com a morte.

    ResponderExcluir
  3. Ninguém é completamente capaz de lhe dar com a morte como algo cotidiano, mesmo que esse ocorra rotineiramente em nossa sociedade. Falar em morte envolve fatores culturais, sociais e, o mais importante, relações que estabelecem vínculos afetivos. O óbito de um paciente, o momento de contato com os familiares para a transmissão da notícia e até mesmo a compreensão do profissional para consigo mesmo, entender que não foi fracasso da parte dele a ocorrência de um óbito, todas essas questão exigem grande reflexão, o que nem sempre é possível ocorrer de imediato após a morte de um paciente. Não é necessariamente falta de preparo dos profissionais, o assunto é delicado e cada ser é impar, ninguém reage da mesma forma diante de situações como essa. O que se faz necessário é dialogar sempre sobre isso com os profissionais e com os que estão em processo de formação, fazê-los entender que isso fará parte do seu dia a dia, que é normal sermos atingidos por sentimentos de compaixão e insegurança, mas não se deve deixá-los perdurar.

    ResponderExcluir
  4. Na sociedade ocidental a morte não é bem aceita e está sempre relacinada ao sentimento de sofrimento e dor. Ainda existe um tabu muito grande a se tratar desse assunto. Por conta disso, há uma lacuna gigante na formação dos profissionais de saúde em saber lidar com o falecimento, que é recorrente na sua rotina de trabalho. Seria muito importante que houvesse a elaboração de um componente curricular somente para tratar desse assunto e que fosse matéria obrigatória para todos os cursos de saúde. Dessa forma, os futuros profissionais teriam maior embasamento teórico e prático para acolher e lidar com a morte. E além disso, teriam a possibilidade de fazer um trabalho mais completo com enfoque também no psicológico desses profissionais que estão o tempo todo na presença da morte sem ter nenhum ou pouquíssimo preparo para isso.

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. A verdade é que ninguém está completamente preparado para lhe dar com a morte, alguns desenvolvem isso e outros simplesmente ignoram o assunto com medo. Desde pequenos fomos criados protegidos disso, desse momento, desse nome, de tudo que remete a morte. Não somos levados a enterros, não conversamos em casa sobre o assunto e assim vai.. há quem diga que essa maneira é a melhor, para nos proteger, ou será que proteger não seria nos preparar melhor para essa situação?

    ResponderExcluir
  7. Falar de morte ainda hoje causa medo e terror nas pessoas, e isso não é um evento da atualidade, pois desde o inicio das civilizações quando as doenças matavam uma grande massa rapidamente, a morte já assustava por não ter explicações. Mas hoje, eu vejo que está no imaginário das pessoas que a morte é algo ruim, mas não é; morrer também é se desprender de dores físicas e emocionais. Eu não sei lidar com a morte, porque acredito que isso seja um processo de aprendizagem, de desmistificar uma crença que vem ao longo dos séculos. Mas só o fato de estamos debatendo, dialogando sobre esse assunto, já uma forma de quebrar certos tabus em nós mesmos.

    ResponderExcluir
  8. Lidar com a morte tem, sem dúvidas, influência cultural do meio em que vivemos. Todavia, acho muito particular essa relação. As pessoas que me rodeiam tem diversas perspectivas mas nenhuma delas deixam de transparecer uma insegurança ou medo. Algo extremamente natural considerando o desconhecimento da humanidade quanto ao tema. Não acredito que haja uma preparação para lidar com a morte. Não discordo, porém que conviver com episódios fatais diariamente ajude a uma adaptação a situação. Certa vez soube de uma situação que envolvia uma médica. Ela tinha acabado de se formar e durante o seu plantão um paciente veio a óbito ela não podia demonstrar o quanto estava consternada( reprida pela obrigação e por outra médica que a impediu). Mas segundo ela, a primeira reação foi fugir e se trancar numa sala e chorar o quanto precisava. Depois voltar a trabalhar porque existiam outros tantos pacientes buscando atendimento afinal o plantão não tinha acabado. Acho que esse é um dos momentos em que a humanidade é expressada. O luto é algo intrínseco a existência humana.

    ResponderExcluir
  9. Lidar com a morte tem, sem dúvidas, influência cultural do meio em que vivemos. Todavia, acho muito particular essa relação. As pessoas que me rodeiam tem diversas perspectivas mas nenhuma delas deixam de transparecer uma insegurança ou medo. Algo extremamente natural considerando o desconhecimento da humanidade quanto ao tema. Não acredito que haja uma preparação para lidar com a morte. Não discordo, porém que conviver com episódios fatais diariamente ajude a uma adaptação a situação. Certa vez soube de uma situação que envolvia uma médica. Ela tinha acabado de se formar e durante o seu plantão um paciente veio a óbito ela não podia demonstrar o quanto estava consternada( reprida pela obrigação e por outra médica que a impediu). Mas segundo ela, a primeira reação foi fugir e se trancar numa sala e chorar o quanto precisava. Depois voltar a trabalhar porque existiam outros tantos pacientes buscando atendimento afinal o plantão não tinha acabado. Acho que esse é um dos momentos em que a humanidade é expressada. O luto é algo intrínseco a existência humana.

    ResponderExcluir
  10. A sociedade é despreparada para lidar com a morte. Coliere afirma que desde o início sempre lutamos pela sobrevivência, lutando contra tudo o que nos possibilitaria morrer.
    Com o passar do tempo, os cuidados a saúde foram desenvolvidos para retardar essa morte.
    Obviamente, a cultura do momento e/ou convicções pessoais influenciam na maneira de enxergar a morte. Contudo, de modo geral, nunca estivemos prontos para lidar com essa questão, evitamos até tocar no assunto.
    Refletir sobre a morte pode nos levar a caminhos para aprendermos a lidar com ela. Como profissionais de saúde, precisamos nos preparar, pois constantemente estaremos expostos a situações em que conviveremos com a morte de perto.

    ResponderExcluir