quarta-feira, 15 de março de 2017

Campanha mobiliza a população contra o racismo no SUS







Em dezembro de 2014 o Ministério Saúde lançou uma campanha contra o racismo institucional no SUS. Pouco citado (ou nem isso) dentro das academias e em formações para profissionais (reuniões de sindicato, congressos, palestras, simpósios, etc.). O assunto tem consequências em que não só causa as doenças, mas promove sofrimento e morte.
O termo “racismo institucional” foi definido pelos integrantes do grupo Panteras Negras, para dizer como o racismo de estruturava nas organizações e instituições. Para Stokely Carmichael “trata-se da falha coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica” (GELEDÉS – INSTITUTO DA MULHER NEGRA, 2017). Jurema Werneck definiu como um “modo de subordinar os direitos e a democracia às necessidades do racismo” (GELEDÉS – INSTITUTO DA MULHER NEGRA, 2017).
O racismo institucional na saúde se estrutura de diversas formas como, por exemplo:  na omissão de cuidado, na informação não passada ou passada de forma equivocada/incompleta, na negligência durante o atendimento e na negativa de acesso. Os pretos e pardos tendem a procurar menos os serviços de saúde, quando procuram tem maior probabilidade de não ser atendidos e quando são saem mais insatisfeitos. Um caso bem importante e não é dada a atenção devida pelos médicos clínicos nas emergências é a anemia falciforme que é uma doença grave e pode ser diagnosticada no teste do pezinho feito logo no nascimento do bebê e tem uma incidência de 6a 10% enquanto na população branca fica entre 2 e 4%. Na saúde da mulher os impactos vão desde a dificuldade para realizar uma mamografia.  “Segundo a PNAD de 2008, 40,9% das mulheres pretas e pardas acima de 40 anos de idade jamais haviam realizado mamografia em suas vidas, frente a 26,4% das brancas na mesma situação” (GELEDÉS, 2017 apud Paixão etalli, 2011: 19). Até nos casos de aborto em que as mulheres negras é a grande maioria que vai a óbito por realizar o procedimento de forma ilegal, insegura e precária.
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela... Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.” Nelson Mandela (1918-2013).
Somos reflexos daquilo que em nós foi construído desde o nascimento. O que comemos, vestimos, falamos... Tudo foi socialmente construído culturalmente e faz parte de nós. E quando nos damos conta, já estamos formados e somos assim: fruto de um contexto social. Como disse Mandela, o racismo é aprendido... E o que é construído pode ser desconstruído também. Um racismo que tem se estendido as mais diversas instituições na sociedade e tem levado muitos ao sofrimento por está presente no serviço de saúde que se é prestado a população. Serviço que nasceu de lutas da população pelo seu direito a saúde, e existe para beneficiar a população.
É importante que nós, estudantes da área de saúde e futuras (os) enfermeiras (os), fiquemos atentas e atentas (os) enquanto o tipo e a qualidade de serviço que será prestada a população economicamente vulnerável.  Que é composta majoritariamente por pretos e pardos, não julgando ou deduzindo os motivos que o levaram estar ali. A partir do momento em que o indivíduo se torna paciente é necessário que se dê um atendimento humanizado com observação das suas subjetividades.

Referências:
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. .Campanha mobiliza a população contra o racismo no SUS. 2014. Disponível em: <http://www.blog.saude.gov.br/index.php/34777-campanha-mobiliza-a-populacao-contra-o-racismo-no-sus>. Acesso em: 15 mar. 2017.

GELEDÉS – INSTITUTO DA MULHER NEGRA (Brasil). Guia de enfrentamento do racismo institucional. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Guia-de-enfrentamento-ao-racismo-institucional.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2017.

Responsável pela publicação: Grupo 12 (Izis Lima, Jessica Frexeira, Talita Gonçalves)

9 comentários:

  1. A sociedade brasileira é marcada historicamente pelo racismo e discriminação. Hoje o preconceito é inerente à cultura do povo brasileiro, em virtude dos séculos de dominação e estruturas sociais totalizantes, no entanto o discurso político-ideológico de que “somos todos iguais” é extremamente difundido. Concordo que o racismo é aprendido, mas é no decorrer da vida que as pessoas descobrem como a COR é determinante, e principalmente o LUGAR de cada cor. As pessoas sabem que existe racismo, mas preferem ‘fechar os olhos’ e acreditar em discursos politicamente corretos. Cabe a cada um refletir como tem se comportado diante do racismo, e enquanto futuros profissionais de saúde, pensarmos sobre o racismo institucional – que claramente é uma grande barreira para melhora da condição de saúde da população negra. O olhar ‘racializado’ determina o atendimento estabelecido, logo, o racismo institucional é uma iniquidade em saúde, por gerar resultados terapêuticos desiguais ao impor barreiras para o acesso ou atenção em saúde em todos os níveis do SUS. A participação de todos é fundamental para mudar essa situação, todos os profissionais deveriam lutar contra o racismo institucional, como isso ainda não está acontecendo, os usuários negros devem empoderar-se de seus direitos e buscar ativamente combater o racismo institucional.

    ResponderExcluir
  2. Para saber se o racismo existe basta estudar o mínimo de História. E para saber que existe até hoje basta viver no mundo real. Assim fica fácil entender que a campanha não nasceu da noite para o dia nem é de responsabilidade exclusiva do partidão. É uma resposta aos movimentos sociais que estudam a saúde dessa população e exigem políticas públicas específicas para o grupo em questão.

    ResponderExcluir
  3. De fato o racismo no Brasil é algo é presente e marca a vida de quem passa por essas situações. Os profissionais de saúde, principalmente Enfermeiras, são a linha de frente no contato com o público, e são elas por serem mulheres e negras, que mais sofrem com isso todos os dias. É necessário mais que campanhas, a punição é a melhor maneira de frear pessoas racistas.

    ResponderExcluir
  4. A história brasileira possui marcas profundas da discriminação racial. Eu costumo dizer que o primogênito do regime escravocrata é o racismo. Os espaços de poder deixam isso, por vezes, evidente. A universidade é racista. Mesmo com os inúmeros debates, a universidade permanece racista. Professores, alunos e demais funcionários cada qual a seu modo demonstram o quanto são limitados nesse quesito. A acusação de vitimização dos negros é frequente e pessoas que passam longe de terem cor escura, cabelo crespo e traços largos vomitam opiniões estupidas criminalizando a indignação do povo negro. Isso acontece entre a elite intelectual do estado mais negro do Brasil que não por coincidência tem uma universidade branca. Muito me admira as opiniões públicas que se distanciam dos posicionamentos frequentes. A saúde brasileira é um das áreas de conhecimento mais elitizadas. Logo, os futuros trabalhadores advêm de uma burguesia racista. E o resultado disso não seria diferente do que está sendo exposto na publicação.

    ResponderExcluir
  5. Ao acompanhar crianças em formação de caráter, é nítida a realidade nessa citação de Mandela, ninguém nasce racista e assim como o racismo é aprendido, o amor e o respeito também podem ser. Acredito que existem grandes falhas nos sistemas de formação profissional e isso precisa ser corrigido. As universidades e os cursos precisam tratar sobre o o racismo com veemência pois é um assunto muito sério, ainda mais se tratando de atendimento em saúde, já que os usuários chegam já vulnerabilizados por seus determinantes sociais e convivência diária com a descriminação. Chega de tratar o outro de maneira diferente pela cor da sua pele! Sejamos a diferença que queremos ver no mundo!

    ResponderExcluir
  6. Infelizmente o Racismo Institucional é uma realidade do nosso país... O que é pior, é a naturalidade que o mesmo se processa nas instituições.
    Somos tratados como objetos de manobra de um sistema de saúde (público e privado) que foi criado para cuidar das questões de saúde da sociedade, mas que nos classifica como melhores ou piores pela cor da nossa pele. O que mais assusta, é que o SUS que nasce como resultados de lutas sociais... Lutas de um povo que começou a se posicionar politicamente pelo seu direito a saúde e conseguiu esse direito pela lei; vem ao longo dos anos perpetuando um tratamento que oprime, exclui e condena a população negra a uma escravidão que foi abolida. Abolida? Em parte... Pois nós negros afirmamos que não somos mais escravos. Mas vivemos como reféns de uma escravidão simbólica, que atua de forma maquiada. Mais é refletida e sentida na pele também quando vamos a um serviço de saúde.
    Ações dividuais aos poucos são ampliadas para o coletivo. Cabe a nós nos posicionarmos sobre essa postura racista errônea, quando se é prestado cuidados em saúde ao negro e pardo. Postura que não nasceu com o indivíduo, mais foi construída e repassada. E o que foi construído pode se desconstruí... Se passarmos a tratar o próximo como respeito independente da sua cor da pele. Quebrando na nossa atuação profissional diária a pratica de um racismo que mancha e condena o ser humano negro e pardo a sempre viverem presos a um passado colonial opressor.

    ResponderExcluir
  7. Acredito que as pessoas não nascem racistas, elas tornam racistas nessa sociedade mediocre em que vivemos, onde o ter é mais importante que o ser. 'O racismo institucional na saúde se estrutura de diversas formas como, por exemplo: na omissão de cuidado, na informação não passada ou passada de forma equivocada/incompleta, na negligência durante o atendimento e na negativa de acesso", infelizmente o racismo é algo presente nos nossos dias.

    ResponderExcluir
  8. O racismo é presente em qualquer área de nossa sociedade. Trazendo para o campo da saúde, é possível notar em amplos aspectos: Seja de tratamento, de inclusão, de relevância da importância. A campanha é extremamente condizente e deve ser reforçado amplamente.

    ResponderExcluir
  9. A discriminação racial é um preconceito desenvolvido culturalmente através da convivência social. Como afirmou Mandela, ‘’ninguém nasce odiando o outro”, e, se esse ódio é uma construção social, o amor e respeito também podem ser construídos socialmente a modo tal a desconstruir esses preconceitos.
    A população negra é a maior existente no nosso país, e mesmo assim ainda existem muitos preconceitos com essa etnia. Devido a construção histórica do nosso país, essa população sempre foi abandonada a margem da sociedade, sem acesso a saúde e a educação.
    Com a onda de manifestações que tomou o Brasil desde a ditadura, muito dessa discriminação foi reduzida, passando a ser até crime. Contudo esse preconceito passou a se estabelecer de forma velada, como no caso da saúde, por exemplo, através de uma negação ao atendimento.
    As campanhas que combatem esse preconceito são fundamentais. Mas, a boa educação é a solução, ou pelo menos o início de uma mudança para situações como essas.
    Primeiro, os profissionais precisam ser encaminhados para uma compreensão do quão destruidor é esse preconceito, não como consciência ou escolha pessoal, mas de forma profissional, sendo necessário até um inserção na história dessa população.
    Segundo, aumentar o acesso dessa população aos meios acadêmicos para que também façam parte desse grupo de profissionais e possam ser representantes desses usuários no setor da saúde. Acredito que essa seja a forma mais eficaz de se iniciar uma mudança desse quadro.

    ResponderExcluir