No
Brasil, o racismo tornou-se um assunto bastante comentado pela TV e redes
sociais, porém, em sua maioria das vezes, é tratado como um evento isolado de
agressões ou intimidações sofridas por pessoas negras.
Apesar de ser bastante apresentado,
são poucos os debates na mídia sobre como o racismo afeta também a educação, a
saúde e o trabalho de forma cotidiana em mais de 53% da população brasileira, número
que representa a quantidade de negros e pardos, segundo os dados do IBGE, em
2014. São pessoas que possuem alta taxa de morbidade e mortalidade e menor
acesso aos serviços de saúde, em comparação a população em geral e dentre
outros dados que reforçam a dimensão da desigualdade racial e social no país.
Mas por
que os negros têm um menor acesso à saúde em comparação a população em geral no
Brasil?
A população negra faz parte da
maioria dos trabalhadores informais, maioria também dos residentes em regiões
periféricas, vivendo sem saneamento básico ou cobertura da rede do SUS (Sistema
Único de Saúde) em muitos lugares e compondo também as classes mais pobres do
país. São fatores que contribuem com a incidência e prevalência de doenças e uma
baixa qualidade de vida de grande parte dos cidadãos brasileiros.
Além da precariedade no acesso à
saúde de grande parte da população negra, a exposição ao racismo desde a
infância afeta a saúde mental deste grupo que representa a maioria do povo brasileiro.
E, de acordo com a psicóloga, psicoterapeuta e ativista do Movimento Negro
Maria Lucia da Silva ‘’ Numa sociedade multicultural e racista, o contato
constante com o “mundo branco” poderá criar-lhe transtornos emocionais devido
às repetidas frustrações e falta de oportunidade e perspectiva para o futuro.
[...] Essa ocorrência se deve às repetidas experiências de desvalorização da
autoimagem, difundidas tanto pelas instituições como pelas relações
interpessoais, e à interiorização do eu ideal europeu, branco’’ .O preconceito
racial deixa marcas profundas na mente das vítimas e traz consequências que
podem dificultar o crescimento e desenvolvimento social, visto que, desde
criança ,os negros são expostos a desvalorização cultural nas escolas ,veem na mídia
a falta de representatividade e presenciam ,muitas vezes, em instituições de saúde,
a desvalorização dos seus corpos.
Além da saúde mental, o racismo pode
agravar os problemas físicos através da restrição do acesso aos serviços, ou um
atendimento discriminatório, como a ideia de que os negros são mais resistentes
a dor ou resistência de alguns profissionais de saúde em tocar numa pessoa
negra, mesmo que o racismo e injurias raciais sejam crimes no Brasil.
Estes estereótipos, unidos a dificuldade em
reconhecer o problema, são fatores que contribuem para a prevalência do racismo
que é naturalizado e institucional, isto é, ocorre também em diversas Instituições
brasileiras, praticada por alguns profissionais. Ressaltando também a falta de
programas e investimentos no combate à discriminação que são exemplos de negligência
do Estado sobre o assunto.
Por fim, o racismo é uma violência
que afeta a qualidade de vida de milhares de brasileiros. Para combate-lo é necessária
equidade, ou seja, o reconhecimento das diferenças e das desigualdades da
população brasileira somado a uma gestão pública que possa mudar essa
intolerável situação que causa problemas físicos e mentais a uma grande parcela
dos cidadãos do Brasil.
E para
você, o racismo existe ou não no âmbito da saúde? Já presenciou algum caso?
Deixe nos comentários.
Referências:
Fonte
dos dados: IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Pesquisa das
Características Étnico-raciais da População
Responsável pela publicação: Grupo 08 (Eduardo Santiago, Rebeca Nascimento e Jamile Silva)
De fato o reconhecimento das diferenças principalmente em um país rico em diversidade como o Brasil seria o primeiro passo para acabar com o ideal preconceituoso da sociedade. Mas creio que esse seja o grande desafio a aceitação do que seja imposto como diferente.Entretanto, em um olhar para a saúde me surpreendi quando no vídeo ( por sinal ótima postagem rs) foi reportado que a realidade do índice de mortalidade materna em relação a cor especial negra é totalmente diferente do que pelo menos eu esperava por simplesmente como a maioria olhar os bons resultados em saúde apresentados de uma maneira superficial, generalizada. Já sabia que a cor influenciava em alguns atendimentos prestados em serviços por ouvir relatos mas é entristecedor saber que apesar do avançar dos anos ela continua sendo ainda uma barreira social.Ensinar os filhos e as próximas gerações o repeito é fundamental mas apesar de existirem debates mais acesos sobre o tema não me vejo preparada ou pelo menos saberia lidar com uma situação racista /preconceituosa. E essa creio que seria minha reação quando uma colega levantou a seguinte questão: Como agir se um paciente se recusar ser atendido por uma negra?. Constatamos sim a desigualdade racial na saúde enraizada no triste passado e no atual cenário das desigualdades econômica e geográfica
ResponderExcluirDurante a apresentação do mapeamento dos homicídios em Salvador, na aula de Vigilância em Saúde, esse tema veio a tona e houve uma discussão interessante. O acesso da população negra à saúde é difícil, diante da sua vulnerabilidade social constituída historicamente. Mais do que discutir, estamos visualizando na prática que é uma população marginalizada em diversos cenários. Em Alto de Coutos há uma unidade básica de saúde para atender toda a população, que é maioria negra, periférica. Marcar uma consulta oftalmológica é quase impossível, como a própria recepcionista da unidade disse. E, quando consegue marcar a consulta, é por ordem de chegada e em bairros como Pituba e Canela, sendo que há apenas duas linhas de ônibus no bairro. Como chegar cedo o suficiente na clínica para a consulta sem que seja um sacrifício? E esse atendimento realizado em clínicas particulares que os usuários do SUS entram pela "porta dos fundos"? É necessário que nós, privilegiados, que tem voz na sociedade, lutarmos por quem é marginalizado, por quem é não é escutado. E a luta começa em defesa do próprio SUS, hoje ameaçado, pois, se é difícil para essa população com o SUS, imagina sem ele?
ResponderExcluir"A população negra faz parte da maioria dos trabalhadores informais, maioria também dos residentes em regiões periféricas, vivendo sem saneamento básico ou cobertura da rede do SUS..." esse pequeno trecho da publicação me levou a refletir sobre um fato histórico que muito marcou a história dos negros: a escravidão. Estaríamos hoje realmente vivendo um período sem escravidão? Desde que os negros foram "libertos" havia a dificuldade de viverem fora das senzalas pois foram tirados de suas terras para outras onde eles não tinham estrutura e hoje após tantos anos muitos ainda não tem seu lugar na sociedade sendo forçados a viverem em situações desumanas e se submeterem a trabalhos não tão distantes do escravo. Políticas públicas, modificações na gestão, de nada adiantarão para mudarmos esse cenário se não dermos lugar aos negros na sociedade. Por que não permitir que quem realizará essa gestão sejam negros? É preciso dar lugar a eles na sociedade para assim mudarmos essa divisão racial predominante, mudaram-se os tempos mas não evoluímos com ele, as senzalas se transformaram em periferias, os senhores é o sistema opressor, e nos somos as sinhás que obedecemos aos senhores. Essa luta não é dos negros, é dos cidadãos que tem consciência de que o respeito e os direitos estão além da cor da pele. Tratar essas pessoas como iguais não é nada além de natural, fazemos nobre o ato de alguém tratar bem um negro, isso deveria ser algo comum, principalmente na área da saúde, onde nós futuras enfermeiras precisamos compreender que o mesmo tratamento que o branco, rico recebo, o negro, pobre também deve receber, ou até mais se necessário, como rege o princípio da equidade. A luta pela liberdade ainda permanece, essa falsa sensação de fim da escravidão nos cega, eles não estão libertos, só mudaram de "donos", a sociedade e o sistema opressor é o novo senhor de engenho do século XXI, onde o negro da periferia que anda de chinelo, bermuda e camisa regata pode ser um marginal e não um cidadão que se veste como queira, precisamos desconstruir em nós essa ideologia. Uma mente preconceituosa é uma prisão sem grades.
ResponderExcluirVale salientar que a saúde do nosso país é vendida. A acessibilidade à saúde é regida por interesses capitalistas. A qualidade e hábitos de vida, estritamente submetida à educação, também vendida, revela uma condição de saúde popular preocupante. Cabe ainda destacar que, majoritariamente, somos pardos e negros, pobres, leigos. O Sistema Único de Saúde sofre com a falta de investimento estatal e com a precarização dos serviços que, por sua vez, os cidadãos tendem a buscar planos de saúde caros e ineficientes. Logo, a população se torna refém de organizações com fins lucrativos que servem muito mal a quem tem pouco financeiramente.
ResponderExcluirO processo histórico trouxe a ideia do negro servo, que não era dono de si. E é esse passado que se reflete no tempo presente. Há vários ataques de racismo, inclusive recentemente alguns casos não isolados foram parar na mídia, justamente por terem sido ataques à pessoas da mídia. Mas, de forma constante, ocorrem ataques que passam sem punição alguma, ou por serem "de forma sutil", ou por serem voltados à pessoas simples e sem voz na sociedade. E é aí que a mudança deve começar, na voz! A voz do povo promove direitos, melhorias e mudanças. Se até no âmbito da saúde o racismo ocorre, no que se trata de atendimento profissional, em muitos outros setores ocorre de forma ainda mais gritante. Penso que as pessoas só não podem se calar, tanto os que presenciam(sim, porque na maioria das vezes há uma testemunha), quanto os que sofrem. É preciso ter e dar voz ao povo, e nos, que temos essa consciência, somos esse povo!
ResponderExcluirInfelizmente nosso pais, por mais miscigenado que seja, ainda existem casos de racismo. E nos ambientes de saúde essa triste realidade também permeia o cotidiano de negros e negras. A realidade é que o histórico de escravidão ainda está marcado como um estigma nessa população que tanto já sofreu. Os ambientes de saúde deveriam ser locais de acolhimento e como já presenciado não só por mim, pessoas são segregadas por sua cor de pele ou por uma orientação sexual. Já presenciei em hospitais de grande renome aqui mesmo de Salvador olhares tortos bem como tratamento diferenciado por conta de cor e orientação sexual. Acredito que a melhor forma de combater esses episódios é por meio de denúncias. A população não pode se calar.
ResponderExcluirÉ uma questão histórica, que vem lá dos primórdios da nossa existência, é um assunto muito delicado e importante, que está sempre presente no nosso dia a dia e que ainda tem pouca ênfase, ou tem ênfase quando alguém famoso é afetado. Acho que devemos repensar e procurar mais e melhores maneiras de lhe dar com isso de uma forma mais séria.
ResponderExcluirInfelizmente a questão d racismo no Brasil é cultural, A escravidão africana instituída em solo brasileiro, mesmo sendo justificada por preceitos de ordem religiosa, perpetuou uma ideia corrente onde as tarefas braçais e subalternas são de responsabilidade dos negros. O branco, europeu e civilizado, tinha como papel, no ambiente colonial, liderar e conduzir as ações a serem desenvolvidas. Em outras palavras, uns (brancos) nasceram para o mando, e outros (negros) para a obediência. Isso reflete ainda hoje nos dias atuais, e acaba portanto afetando a saúde de quem sofre esses racismos.
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